« Poucas indústrias tiveram uma fortuna tão rápida como a dragagem dos aluviões auríferos. Restrita há cerca de vinte anos a alguns testes incompletos, ela é hoje uma indústria próspera e que contribui a cada dia para a produção do ouro do mundo ».

A. Bordeaux, 1908.

« Essa questão das dragas é certamente uma das questões mais graves e interessantes dos testes industriais que foram realizados na Guiana » G. Hesse, 1909.

Na aurora do século XX, cinquenta anos após a descoberta do ouro na Guiana Francesa, as grandes jazidas aluvionares das bacias do Sinnamary, Mana e Comté, frequentemente exploradas por empresas de capitais metropolitanos, começam a dar relativos sinais de esgotamento. As produções fáceis dos primeiros anos de exploração parecem pertencer ao passado.

Os exploradores têm diante dos olhos as jazidas que eles não podem alcançar: os aluviões dissimulados sob o leito vivo dos cursos de água, mas também das planícies aluviares pantanosas onde as explorações são abandonadas nas estações chuvosas. São tantas dificuldades que os meios técnicos disponíveis naquele momento, para a exploração das jazidas auríferas, não são capazes de resolvê-las. Há também o problema da necessidade de otimizar o rendimento das explorações. Foi diante dessa problemática, expressada de forma idêntica no mundo todo que intervirá um verdadeiro salto tecnológico herdado das regiões portuárias. Trata-se de adaptar às explorações das jazidas aluvionares, máquinas de dragagem destinadas até então aos trabalhos de limpeza dos canais. Essa inovação foi aplicada à indústria mineira nos anos 1870 na Califórnia e mais tarde conheceu um desenvolvimento rápido no mundo inteiro. Na América do Sul, a dragagem dos aluviões auríferos se desenvolveu principalmente na Guiana Francesa e em proporções pequenas no Suriname e na Guiana.

Uma draga aurífera é uma verdadeira usina flutuante que se compõe por um casco (o « pontão ») constituído por de caixas metálicas flutuantes estanques agrupadas e que suportam em geral, uma máquina a vapor alimentada por caldeiras à lenha, que através de um complexo jogo de transmissão por roda dentada e cabos, acionam as diferentes peças motoras da máquina: a corrente com baldes (draga-baldes) para escavação do aluvião e recuperação do minério até a draga, as diferentes sarilhas e cabos para a manobra da draga – que se desloca pelo acionamento de cabos ancorados às margens – e por fim os dispositivos de lavagem do minério e de bombeamento. Toda a proeza técnica consiste em separar o ouro das argilas, areias e cascalhos durante o curtíssimo tempo de passagem dos aluviões pela draga. Os dispositivos de separação do ouro são tão diversos quanto os modelos de dragas: desenlameamento e eliminação de elementos grandes por peneiras circulares giratórias ou vibratórias, dispositivos de irrigação para a dissolução da argila, passagem do minério por canais retangulares metálicos ou de madeira – os “sluices” *, recobertas com metal expandido, fibras de côco, e às vezes também, placas de cobres amalgamadas que permitem a retenção do ouro.

Uma vez descoberto o depósito, era preciso criar uma empresa que recorria, na maioria dos casos, às capitais. Essas empresas apresentavam a particularidade de reunir ao mesmo tempo, o descobridor guianês que entrava com seu depósito, o engenheiro que estudava o local e concebia a máquina de dragagem e os financiadores.  As dragas guianesas eram construídas na Europa, principalmente nas oficinas escocesas, belgas ou holandesas e depois as máquinas eram integralmente desmontadas e transportadas em peças separadas. O transporte era realizado em barcos a vapor da Europa até Caiena. O material era em seguida encaminhado pelos os rios, até o local de montagem. Lá, primeiro criava-se uma verdadeira oficina de montagem para dar início à reconstrução da máquina que durava diversos meses. Todas as peças eram aparafusadas ou rebitadas. O prazo entre o pedido da draga ao construtor e suas primeiras baldeadas sobre o depósito poderia durar facilmente até dois anos e representava uma verdadeira aventura humana feita de esforços, tenacidade e engenhosidade para enfrentar essas inúmeras dificuldades e imprevistos do meio amazônico.

Algumas dragas justificam o termo “dragossauros” dado pelos historiadores americanos. Elas atingiam 40 m de comprimento por 10 de largura, com uma estrutura superior de 12m de altura e pesavam cerca de 400 toneladas de metal. A dragagem do ouro pelas dragas-baldes representa uma etapa na evolução das técnicas. Quando esse tipo de draga foi aposentado na Guiana Francesa, outros métodos o substituíram, cada um correspondendo a um novo salto tecnológico nos métodos de exploração mineira. É o caso draglines (escavadoras de arrasto) que chegaram dos USA após a Segunda guerra mundial. As ruínas dessas draglines marcam alguns recessos de beira de rio e a mais espetacular de todas, por sua mecanização e suas imponentes dimensões, é com certeza a que foi trazida em1956 à jazida Boulanger próxima à Cacao. As máquinas são agora automotoras, a maioria com rasto contínuo (tratorizada) munidas de uma grua e que lançam seus baldes para recuperarem aluviões sob a água e alimentar uma lavadeira automática flutuante. As dragas de sucção aparecerão em seguida nos anos 80 para explorarem os aluviões no fundo dos rios e as pás mecânicas substituíram as draglines na exploração dos aluviões auríferos.

Quantas máquinas foram trazidas para a Guiana Francesa? A presença de cerca de quinze máquinas é confirmada, mas os documentos de arquivos revelam que mais de vinte dragas foram trazidas para a Guiana Francesa. Os dados relativos a essa atividade que pertencem a um passado recente permanecem muito fragmentados. Algumas máquinas não são sempre reconhecidas através de uma gravura ou até mesmo um balde isolado. Na bacia do Maroni, podemos mencionar a draga Danica, concebida em 1903, da qual a carcaça dorme no confluente da Sparouine e do Maroni, e a draga Helena, trazida em 1909 pela sociedade anônima Sparwine.

Três dragas são conhecidas na bacia do Mana. Além da draga Orion trazida pelo Sindicato Mana, duas dragas ainda visíveis no aluvião Elysée com a draga Suzanne, trazida em 1903 pela Sociedade das Minas de Ouro de Elysée, e na qual trabalhou Jean Galmot, assim como a draga Marguerite instalada em 1908 pela Companhia Mineira e de Dragagem da Guiana Francesa.

Entre as dragas da bacia do Sinnamary, hoje apenas subsiste a da baía Sursaut (cf. figura). A draga Flora afundou em 1901, após cinco meses de atividade, durante uma enchente do rio, e a draga Courcibo, trazida pela Sociedade se encontra hoje nas águas da barragem do Petit Saut.

Enfim, ao menos seis máquinas foram levadas à bacia do Approuague, primeiro na baía Ipoucin (cf. figura) depois em 1926 ao baixo Approuague e à baía Mataroni pela Companhia das Minas de ouro da Guiana Francesa, entre as quais uma surpreendente draga-perfuradora destinada à prospecção do leito do Approuague.

A aventura das dragas-baldes na Guiana Francesa termina antes dos anos 30, após uma série de fracassos ligados à falta de perseverança e ao azar, mas também à obsolência das máquinas, falta de dinheiro e peças de troca e condições de exploração difíceis. Em 1952, os Lenormand escreveram que « a questão da dragagem na Guiana Francesa está agora resolvida ». A técnica perdurará em outros locais, como por exemplo, no Suriname com a draga “Jungle Queen” levada à Benzdorp em1963.

O que o futuro reserva para as antigas dragas auríferas da Guiana Francesa? 

O distanciamento desse excepcional patrimônio industrial mineiro não deve mascarar a importância e se hoje é evidentemente impossível transportar uma dessas máquinas, a questão de uma possível revitalização no local poderia ser ponderada em alguns pontos. A necessidade de um museu suscetível de acolher o conjunto dos vestígios mineiros do garimpo clandestino e da indústria mineira se faz hoje necessário, pois existe o risco de que as múltiplas agressões humanas, aliadas com as ações do tempo e do meio natural, acabem resolvendo essa questão rapidamente e de maneira definitiva.