Os impactos ambientais e as soluções da reabilitação

Guiana Francesa abriga um importante potencial aurífero. A descoberta do ouro, por volta de 1850, já se traduziu durante quase um século por uma “corrida do ouro” e uma intensa atividade de garimpo clandestino em uma grande parte do território. Em seguida essa « febre do ouro » despencou.

Mas desde o início da década de 1990, a Guiana Francesa está experimentando um aumento na atividade de mineração aurífera relacionado com o aumento da cotação do ouro no mercado internacional, com o desenvolvimento de novas técnicas mecanizadas importadas do Brasil, bem como a colocação à disposição do público, em 1996, do inventário da mineração realizado pelo BRGM sobre fundos públicos.

O QUE É UMA EXPLORA EXPLORAÇÃO ALUVIONAR?

A exploração aluvionar consiste em extrair o ouro dos depósitos primários que, pelos fenômenos de alteração das rochas, e de erosão, se encontra hoje nos depósitos sedimentares dos cursos de água. Assim, a exploração de um depósito aluvionar se desenvolve no maior leito do curso d’água atingido pelo desvio do leito menor  (ou a baía) em um canal de derivação. Após o desmatamento completo do vale aluvial e a decapagem dos horizontes superficiais, acontece a descoberta do depósito. Mas, para isso, às vezes é preciso extrair vários metros de solo antes de atingir as camadas auríferas.

Em seguida, à extração do minério é realizada pelo decapeamento as camadas do terreno por meio de um equipamento do tipo “mangueira de incêndio”, alimentada por uma motobomba, com ou sem o apoio de uma escavadora hidráulica para a obtenção do material. A polpa mineral assim obtida é canalizada para um ponto de coleta aonde outra bomba conduz o fluxo lamacento uma lavadora gravimétrica. Essa lavadora, também denominada mesa de lavagem, é construída diretamente no sítio com madeiras cortadas com motosserra ou em uma oficina com o emprego de elementos metálicos. Ela é geralmente composta por três elementos:

- uma armadilha para pepitas constituída por uma caixa de profundidade variável e da largura da mesa: ele permite o depósito de partículas de ouro mais pesadas e o refluxo da água ainda carregada de partículas mais finas;

- uma primeira mesa inclinada, compostas de um corredor recoberto por diversos tapetes plásticos e telas metálicas. A inclinação dessa mesa é variável a fim de controlar a velocidade do escoamento da mistura em função da taxa de fluxo da bomba de cascalho e da taxa de diluição da polpa. O formato das telas metálicas permite a criação de uma ondulação vertical do fluxo da polpa, favorecendo o depósito de partículas em suspensão, enquanto os tapetes permitem uma captura dessas mesmas partículas;

Uma segunda mesa inclinada que possui a mesma constituição e configuração da primeira, mas na qual a inclinação é invertida. Esta ruptura nítida de declive e a inversão do sentido do fluxo permite a interrupção do fluxo, favorecendo o depósito das últimas partículas de ouro em suspensão, sabendo que a maioria deste ouro é depositada sobre a primeira seção da mesa.

O rejeito da água de lavagem do minério é feito da mesa para as bacias de decantação sucessivas, na medida em que a lavra avança no eixo da várzea. Este modo de funcionamento requer uma perfeita estanqueidade do sistema de modo que o curso de água não seja poluído por os materiais em suspensão (MES).

OS IMPACTOS DA EXPLORAÇÃO ALUVIONAR

A exploração aluvionar não consegue existir sem trazer consequências para o meio ambiente próximo. Na verdade ela provoca: – a destruição do traçado do curso de água e da floresta aluvial associada a toda a extensão da operação (no caso de exploração em setor natural anteriormente impactado);

- a erosão dos solos: as superfícies desmatadas contribuem para a lixiviação do solo e para a erosão das margens das baías. Durante o sobrevoo de um sítio de exploração mineral, a cor-de-laranja da laterita, que contrasta com o verde das copas das árvores, é uma prova dessa erosão;

- a poluição das águas no local e rio acima: a lixiviação do solo antes da sua estabilização pela recuperação da vegetação ameaça a qualidade da água e do ambiente aquático em particular devido à asfixia de plantas e peixes que ele provoca, bem como pela solidificação dos fundos;

- a criação de superfícies de lama: a decantação nas bacias hidrográficas cria áreas lamacentas e espessas sobre as quais nenhum veiculo ou equipamento pode ser colocado, pois são verdadeiras areias movediças. Essas áreas lamacentas são fontes de poluição, visto que não são estabilizadas graças à introdução de um novo biótipo sobre um substrato, que é biologicamente pouco atraente.

EXPERIÊNCIAS DE REABILITAÇÃO DE SÍTIOS

A natureza certamente tem uma boa capacidade de regeneração em áreas de floresta tropical, no entanto, ela pode criar ambientes ditos “bloqueadores” onde não nasce nada além de algumas herbáceas* No que diz respeito às zonas de cascalho lavado, elas acabam ficando definitivamente com um aspecto lunar devido ao calor que se acumula e a impossibilidade de manter um nível de umidade de forma satisfatória, para que as sementes possam germinar.

Foi, portanto, imaginar, propor e testar um grande número de métodos de reabilitação dos sítios de mineração, ou seja, a reabilitação (ver diagramas na página 74 para obter uma explicação pormenorizada das etapas deste método). Após os acordos de colaboração entre profissionais da mina, os serviços competentes da administração, os gabinetes de estudos, os pesquisadores, vários sítios-piloto puderam servir de referência para a prática de uma monitorização anual. Recentemente foi criada a Incubadora das Minas se beneficiando do conhecimento adquirido na Guiana Francesa por quase uma década para desenvolver técnicas inovadoras. Esse viveiro, localizado em um antigo sítio de exploração mineral na região do Cacao, possibilitou a plantação de uma geração de mudas, suficientemente robustas para ser em seguida transplantadas nas minas e pedreiras.

PARA DIMINUIR AS PERDAS ECOLÓGICAS

Mesmo se conhecemos a dimensão atual das lesões causadas pela mineração na floresta da Guiana Francesa, é mais difícil avaliar a profundidade destas feridas e a sua capacidade de cicatrização. Poderão os solos explorados e lixiviados, novamente receberem uma vegetação tão diversificada como a da floresta original com mais de 120 espécies de árvores por hectare? As lagoas derivadas, canalizadas e entupidas pelo depósito de sedimentos não morrerão e ficarão definitivamente poluídas?

Para responder a estas perguntas e melhor avaliar o custo ecológico do garimpo do ouro em longo prazo, um observatório foi criado em 2008 pelos agentes do Gabinete Nacional das florestas, apoiados por laboratórios científicos especializados (Hydreco e Ecofog). Uma rede de 10 sítios de mineração desativados há muitos anos, serviu como fonte de amostras e revela todas as faces da atividade, confirmando a importância da fase de reabilitação… mas revela também algumas surpresas.

A melhor destas surpresas refere-se ao córrego, capazes de encontrar, após reabilitação do leito menor*, uma qualidade satisfatória das águas no final de quatro anos. A presença de larvas de insetos normalmente sensíveis à poluição e de uma população diversificada de peixe e equilibrada, confirmam isso. Mas atenção, isso só é possível com a condição de permanecer em contato com uma bacia vertente intacta e suficientemente grande para “tamponar” os efeitos da exploração e recolonizar as margens, uma vez a poluição eliminada. Já as cabeceiras de córregos isolados, estão condenadas quando a exploração sobe muito alto nos relevos.

- Outra situação insatisfatória: o espectro latente do mercúrio remobilizado pela lixiviação dos solos1. Ele está sempre presente na carne dos primeiros peixes carnívoros que chegaram aos locais, tornando-os impróprios para o consumo humano.

Sobre a terra firme a constatação também não é muito animadora. Embora a cobertura vegetal abundante e estratificado reocupa a maioria do espaço em um tempo relativamente curto para a média do ritmo da floresta, não podemos confiar cegamente nessa condição, pois somente os solos reabilitados com cuidado e passo a passo, apresentam uma real probabilidade de evolução rumo à floreta. Isto é o que comprova a atividade dos microrganismos do solo, primeiro tijolo para construção de um biótopo digno do nome. As formações vegetais mais elevadas e mais densas encontradas em sítios não reabilitados, constituídas por uma cobertura de embaúba (Cecropia spp) e invalidadas por um arbusto espinhoso (Mimosa pigra), correm o risco de resultarem em um verdadeiro beco sem saída ecológico pelo esgotamento das magras reservas de um solo mal gerido que mostra poucos sinais de vida ecológica das escassas reservas de solo de mal gerido que mostra apenas alguns sinais de vida.

Os plantios paliativos, aplicados nesses solos doentes, podem ser muito eficazes. Mas esse empurrãozinho para ajudar a natureza na reativação das dinâmicas naturais, precisa de uma reabilitação cuidadosa e, sobretudo integrada às fases de exploração a fim de garantir um prazo de recuperação dos solos que preserva sua fertilidade e limita a erosão. não pode passar sem uma reabilitação cuidadosa e, acima de tudo, integrados para as fases de operação para assegurar sem demora um desconto no lugar do solo que preserve a sua fertilidade e a limitar a erosão.

1. Estamos falando aqui do mercúrio naturalmente presente no solo e/ou do mercúrio acumulado pelas antigas explorações aluvionares. O uso de mercúrio na atividade aurífera é proibido desde 1 de Janeiro de 2006 pela lei 1232/SG de 08 de Junho de 2004.

AS FASES DE REABILITAÇÃO

Durante a fase de reabilitação, após secagem das bacias hidrográficas, o objetivo é minimizar as superfícies de águas estagnadas lênticas que são susceptíveis de se tornarem altamente concentradas em mercúrio. Para fazer isso, o escorrimento da água deverá sempre ocorrer no ponto mais baixo, que posteriormente se tornará o leito da lagoa restaurada. Todas as bacias hidrográficas da exploração deverão por sua vez, serem aterradas.

Os cursos de água são em seguida devolvidos ao leito de cascalho, o que permite a redução de impactos sobre a qualidade da água graças à aglomeração de partículas finas. Já a biomassa seca das árvores abatidas, é reutilizada na superfície trabalhada a fim de promover uma recuperação mais rápida da vegetação. O mesmo se aplica para a terra arável onde ficam as sementes e nutrientes. Finalmente, o canal de derivação é aterrado em sua totalidade.

 

O objetivo de revegetação não é restabelecer imediatamente uma zona de floresta, e sim criar em um primeiro momento, uma dinâmica de evolução da vegetação e estabilizar o mais rápido possível os solos, limitando a sua lixiviação. Isso pode ser feito de duas maneiras diferentes: pela revegetação natural reutilizando as terras aráveis, bem como a biomassa seca como um fertilizante natural; pela revegetação assistida graças à implementação de corredores ecológicos que irão permitir ao meio, um enriquecimento pela fauna e avifauna. As faixas perpendiculares ao terraço aluvionar serão em seguida plantadas com espécies pioneiras heliófilas a fim de incentivar a recuperação da vegetação sob suas folhagens. As terras das margens e das superfícies mais vulneráveis, bem como as áreas de lama (que são as áreas mais problemáticas para a qualidade da água) serão em seguida estabilizadas graças às herbáceas ou gramíneas tais como o arroz, que tem um sistema de raiz bem desenvolvido que permite a drenagem das superfícies.