Os Wayana são uma das comunidades ameríndias presentes no território guianês. Eles vivem no sudoeste da Guiana Francesa no município de Maripasoula. Sua população estimada é de aproximadamente 1.000 habitantes na Guiana Francesa, mas seu território se estende até ao Brasil (pelo Paru do Leste) e ao Suriname (pelo Tapanahoni). No total estima-se que eles sejam entre 1600 e 1800 pessoas.

Seu idioma pertence à família linguística karib, assim como os Kali’na, que vivem no litoral (Awala-Yalimapo, Mana, Iracoubo…). Mas seu modo de vida se assemelha ao dos Wayãpi que vivem no povoado de Camopi, ao longo do Oyapock (Camopi, Trois Sauts), e dos Teko (Emerillons) que vivem nas cidades de Camopi, e de Maripasoula.

Os outros grupos ameríndios que vivem na Guiana Francesa são os Arawak (cidade Balaté em St Laurent du Maroni, e Ste Rose de Lima em Matoury), e os Palikur (Tonate-Macouria, Favard (Roura), e St Georges de l’Oyapock).

Encontramos também os Tiriyo e os Apalaï, em Litani (Haut Maroni), onde eles vivem próximo ou mesmo dentro das aldeias Wayana. O grupo atual dos Wayana é fruto da fusão de diversoss grupos étnicos amazônicos que sofreram o « choque epidêmico » depois da conquista. A presença desse grupo na Guiana Francesa remonta ao século XVIII, quando eles desceram os rios Marouini e Litani proveniente da Região dos  Tumuc-Humac onde eles residiam desde o século XV.

Atualmente eles vivem em Litani e Tampok (Alto maroni), onde suas aldeias se sedentarizaram desde os anos 50, devido à vontade das autoridades francesas de melhor controlar as populações do interior e à instituição de uma política sanitária com hospitais nas cidades. As primeiras escolas foram construidas nos anos 80 (Twenké e depois Antécume pata, Elahé, Cayodé, Taluhwen…), o que contribuiu para sedentarizar definitivamente as aldeias.

A vida deles se articula em torno de diversas atividades: coivaras, pesca, caça, colheita. A sedentarização trouxe problemas de acesso aos recursos (sobretudo de natureza cinergética, mas também ciência pesqueira). À isso soma-se o garimpo clandestino do ouro que polui os rios e constitui uma pressão extremamente destrutiva para a natureza.

O ARTESANATO WAYANA : UM PATRIMÔNIO A SERR PRESERVADO : O PAPEL DAS ASSOCIAÇÕES

O artesanato Wayana é um dos mais ricos e variados da Guiana Francesa: maluana, cestaria, cerâmica, trabalhos com miçangas e sementes, arquearia, e bancos zoomórficos, todos de uma qualidade indiscutível. As associações tipo lei 1901 têm um papel essencial na preservação desse artesanato: Cawai (criada em 1985 em Twenké) e Yépé (criada em1990 em Antécume pata) comercializando inúmeros objetos. A  associação Cawai possuía uma loja em Caiena nos anos 90. O faturamento era próspero (30 000 Francos mensais de artesanato em 1996). O papel dessas associações ultrapassava largamente o da produção artesanal,  visto que  elas também cuidavam das reformas do carbet comunitário (abrigo sumário coberto por lonas de plástico), fornecimento de bens de consumo (ferramentas, motores fora de borda, etc.) e da vida da aldeia em geral (principalmente  a tomada do cargo de coordenador cultural na escola, organização de estágios de formação …)

Se a associação Yépé ainda existe, graças a perseverança de André Cognat,  não é mais o caso  de Cawai, que encerrou suas atividades nos anos 2000.

Nós sabemos que J.P. Kingelhoffer, presidente fundador da Cawai já tinha percebido o claro desaparecimento do uso de alguns produtos fabricados localmente ao detrimento de produtos manufaturados. Foi o caso da cerâmica. E foi uma das razões que o motivou a criar essa associação de venda do artesanato local (wayana, apalaï e tiriyo). Podemos ressaltar que é certamente graças a essa iniciativa que nós devemos a sobrevivência da arte cerâmica dos Wayana, atualmente. Na verdade, os potes cerâmicos quase já não são mais utilizados no dia-a-dia e são produzidos exclusivamente para a venda. Alguns já desapareceram totalmente como a gamela de mandioca (elinat) e a grande jarra à cachiri (oha).

PRÁTICAS FADADAS AO DESAPARECIMENTO

Atualmente, além das formas em cerâmica já desaparecidas, diversos modelos de cestaria tendem a sofrer o mesmo destino. É o exemplo dos cestos para pimenta (humuli), as cestas de penas (kukuwa), e os cestos ilijalita (“os rins do preguiçoso“) quase não são mais fabricados. Por outro lado, há um aumento considerável da fabricação do maluna. Esse objeto, que tem uma posição essencial no sistema de pensamento wayana, e do qual a fabricação era reservada aos Antigos, é agora realizada em grande quantidade pelos jovens homens que se beneficiam comercializando-os, com rendimento não negligenciáveis. Atualmente, nós assistimos então a uma especialização dos jovens nesse domínio, segundo duas técnicas: pintura em acrílico e pintura com pigmentos naturais (argilas coloridas). A segunda foi reintroduzida na cultura Wayana após ter sido totalmente abandonada, após a introdução por um artista local, da utilização de ligantes acrílicos para fixar os pigmentos naturais.

Paralelamente à cestaria, e a fabricação dos malunas, aos quais é preciso adicionar a confecção de bancos zoomórficos, dos arcos e flechas, lanças, e quebra-cabeça, que são reservados ao homens,, as mulheres fabricam as cerâmicas, redes e porta-bébés em algodão, colares, cintos e weju (tapa-sexo feminino)  com miçangas ou sementes (principalmente malamala-Schefflera splendens). Durante um estudo realizado  no âmbito de um programa de pesquisas sobre os produtos florestais não lenhosos, nós podemos constatar que um grande número de artesãos estavam abandonando suas práticas. Eles listaram um grande número de objetos que eles eram capazes de realizar, mas que não fabricavam mais porque eles não usavam mais e não  tinham saída comercial. Baseados nessa constatação e após ao colóquio sobre “pesquisa e valorização de produtos florestais: quais ações sustentável?“,tornou-se importante executar  no contexto guianês, um circuito de comercialização do artesanato tradicional e produtos naturais em uma ação de comércio justo (sustentável). Esse projeto, gerido pela associação Gadepam, resultou na abertura, em novembro de 2005, de uma loja de artesanato solidário nos locais do PNRG em Caiena.

A CERÂMICA WAYANA : TÉCNICAS DE FABRICAÇÃO

A cerâmica wayana, trabalho exclusivamente feminino, é fabricada com a argila recolhida na floresta junto ao rio Litani. Depois de coletada, a argila é colocada para secar na cidade, durante algumas semanas. Ela é pilada e filtrada em uma peneira, resultando em pó fino que será umidificado antes da utilização. Os objetos cerâmicos são feitos sem tornos, com a técnica do colombin. A destreza é importante para se obter uma espessura regular e as bordas são ajustadas comum pedaço de cuia (Crescentia cujete), e depois alisadas com um pedaço de cogumelo (piupiu). Uma vez a peça terminada, ela passa por uma secagem durante 24 à 48 h. Em seguida a cerâmica é alisada com uma pedra muito dura e muito lisa (mele). Em seguida são feitas as gravuras para ornamentar a cerâmica. Atualmente, utiliza-se um cabo de colher para a gravura. Também são feitos enfeites coloridos com argila de cor vermelha ou branca. Quando os objetos cerâmicos estão bem secos,  estão prontos para o cozimento. O cozimento se faz em duas etapas: em um primeiro momento, os potes cerâmicos são colocadas para secar sobre o fogo como na defumação. Com isso os objetos ficam secos e escuros. Em seguida eles são cozidos em um fogo de cascas propriamente dito. Diferentes tipos de cascas podem ser utilizadas, sendo que cada objeto cerâmico tem suas preferências. Após a retirada dos objetos cerâmicos do fogo, eles passam por uma limpeza para eliminar a fuligem e depois recebem um verniz impermeabilizante. Para isso são utilizadas casacas de diferentes espécies de árvores apulukun (Inga alba, I pezizifera, I. bourgoni) das quais a resina extraída da casca interna, tem propriedades impermeabilizantes..

A COMERCIALIZAÇÃO E SEU IMPACTO

A comercialização do artesanato tradicional wayana teve um papel salvador na sua preservação. Os critérios de qualidade exigidos pelas diferentes associações e sobretudo o prazer do trabalho bem feito dos quais são dotados os Wayana, permitiram a conservação de um artesanato de qualidade rara. Paralelamente é preciso ressaltar que os critérios exigidos também provocaram uma certa uniformização dos modelos.

Um estudo sobre a cerâmica, realizado por Egle Barone no âmbito da missão para a criação do parque da Guiana francesa, favorizoufavorizou uma troca com os artesãos, que resultou em uma atualização de modelos antigos encontrados nos  museus. Dessa forma, os portes cerâmicos reutilizam os motivos sobre os catálogos dos quais eles foram copiados. E assim, o que assistimos a uma certa volta para a tradição no contexto de comercialização.

CONCLUSÃO

A riqueza do artesanato wayana ao qual deve-se acrescentar o artesanato apalaï, pois eles são estreitamente ligados, constitui um patrimônio muito rico, e do qual o significado vai muito além do simples uso funcional, que retrata através dos mitos que são associados à sua história e sua cosmologia. A nosso ver, ele mereceria ser inscrito no patrimônio cultural imaterial da Unesco, à exemplo das « expressões orais e gráficas dos Wajapi » no Brasil em 2003.