Mercado dos peixes de Caiena. Vermelho: 6,50 euros.

« – Foi você quem pescou esses peixes ou você os comprou?

O vendedor hesita na hora de responder.

- Eu os comprei. da Cogumer. »

Cogumer e Abchée são as 2 empresas que estabelecem contratos com os pescadores venezuelanos. Eles compram seus vermelhos por 2,80 ou 3 dólares, para revendê-los principalmente no mercado antilhano. Há muito tempo os pescadores venezuelanos pescam o vermelho no largo da Guiana Francesa. Eles são de Boca del Pozo e Robledal, dois vilarejos da ilha de Margarita na Venezuela.

Os marinheiros partem para missões de até dez dias no mar a 9 milhas da costa. Com, em média, umas 15 linhas para cerca de dez marinheiros, eles passam os dias tirando peixe da água. Nas linhas de aproximadamente 30 metros de comprimento são colocados entre 5 e 7 anzóis. Como isca, sardinhas salgadas trazidas de Margarita.

São os capitães das lanchas* que conhecem e encontram os cardumes de vermelho. Após registrarem as localizações dos cardumes nos GPS, os capitães trocam as informações por rádio. Antes da era GPS, Alcide explica que eles procuravam os vermelhos « aleatoriamente », « como locos », (como loucos). Mas naquela época tinha muito mais peixe. O IFREMER (Instituo Francês de Pesquisa para a Exploração do Mar) constatou no ano 2.000 que o vermelho era superexplorado no largo do platô das Guianas. Desde então, o recurso se mantinha, mas o vermelho se tornou uma espécie que precisava ser monitorada de bem perto.

É por essa razão que o número de licenças concedidas aos barcos venezuelanos é limitado. Em 1986, as pesca que era até então internacional se tornou territorial. Foram criadas zonas de pesca regulamentadas em nível nacional. Os Venezuelanos tinham o hábito de pescar no largo da Guiana Francesa e os operadores guianeses estavam bem contentes de encontrar uma mão de obra barata e experiente. As autoridades francesas instituíram um sistema de licenças: 41 foram atribuídas aos Venezuelanos. Em contrapartida, eles devem desembarcar 75% do produto de sua pesca no Larivot a um preço fixado pelos operadores guianeses.

Se o IFREMER considera que a pesca com covos pode ser sustentável e respeitar o recurso desde que técnicas modernas sejam utilizadas, o Comitê das Pescas e os operadores notam que um covo perdido no mar continua a pescar «para nada» e prejudica assim o recurso. O que é certo, é que pescando na Guiana Francesa e vendendo diretamente nas Antilhas, os pescadores com covos concorrem com as companhias guianesas que trabalham com os Venezuelanos.

Marinheiros, uma história de família?

Alcide pesca na Guiana Francesa há mais de 40 anos. Por muito tempo ele foi marinheiro. Agora ele é capitão do Virgiris. Somente Capitão. O proprietário, que é da sua família está em Margarita. Ele também foi marinheiro e depois passou para Capitão na Guiana Francesa. Em seguida ele comprou um barco. Nós perguntamos a Alcides se ele pretende fazer a mesma coisa. Ele ri. « Não, agora é muito caro. Esse barco aqui vale de 200 a 300.000 euros. »». Por que ele vem pescar na Guiana Francesa? Justamente porque a vida é cara e sua mulher gasta muito! « É, aqui eu ganho a vida mais fácil. »

Para Luis, pescar aqui ou em Margarita, é equivalente financeiramente. De qualquer forma, há 9 anos ele já não é mais pescador. Ele vende peixe no seu vilarejo, utilizando uma moto. Ele disse que dessa vez ele veio « como paseo » (a passeio). Ser marinheiro é muito cansativo. « Você viu, há pouco tempo nós descarregamos 6,8 toneladas em 2 horas! ». Ele gostaria que seus filhos estudassem ao invés de serem pescadores. Ele parou de estudar e começou a trabalhar como marinheiro aos 11 anos, « para alimentar a família ».

Alcide o capitão tem dois filhos marinheiros, dos quais um que no ano que vem receberá seu diploma de capitão « graças aos créditos do governo ». « Os créditos concedidos aos pescadores. Isso faz parte dos projetos de Chavez».

« Antes era impossível conseguir um crédito, explica Audélio. Os pobres não conseguiam empréstimos, só por hipoteca. Mas eu, eu não podia ser capitão, eu não sei ler nem escrever. . »

Ao rítmo da música margaritenha

Cada barco tem seu próprio ritmo de trabalho. Moises confessa: « Eu prefiro trabalhar nesse barco porque somos mais bem tratados. Nós trabalhamos das 6h às 19h, nada mais. ». No barco de Alcide é diferente. « Em terra na Venezuela, existe um direito do trabalho. No mar não. Enquanto tem peixe a gente tem de pescar. De dia, de noite. » Mas o que mais se sente quando a gente fala das dificuldades, é à distância com a família. Felizmente no barco tem rádio via satélite o que possibilita manter contato.

Após esses dez dias no mar, um dia para descarregar, um dia para descansar e tudo recomeça. Nesse início de mês de dezembro enquanto os marinheiros descarregam a pesca dos dez últimos dias, Jesus está ansioso para reencontrar sua mulher, filhos e netos. Para o natal, todos os marinheiros voltam para suas cidades, Boca de Pozo ou Robledal. De dia, todos se encontram em Chacachacare, onde os barcos estacionam e de noite, de volta à cidade, acontece a festa dos reencontros com a família e conhecidos.

É nesse período que eles escutam mais música margaritenha, tradicional da ilha. As músicas falam dos marinheiros, dos milagres da santa da ilha e de amor, claro… Eles têm sempre um ou dois CDs em seus barcos, mas o resto do ano eles escutam sobretudo salsa, merengue e bachata.

Natal é também o período para a manutenção dos barcos.

« Quando a gente volta pra casa no Natal, a gente revisa o barco: restauro da madeira, lixagem, pintura, todos os marinhos trabalham nisso. Só o capitão cruza os braços e dá ordens! » declara Jesus, o capitão do Rompemar. « A gente gosta de limpeza. Os barcos aqui têm realmente uma cara de sujo. Deve ser muito cara a manutenção aqui!», diz Alcide.

Os marinheiros também voltam para casa no mês de setembro, para a festa da Virgem do Vale. Se os marinheiros estão de volta à Margarita e sobreviveram às tempestades e sobretudo ao choque contra grandes barcos pesqueiros, isso deve em parte graças aos turnos de ronda que eles realizam durante a noite, mas também graças à Santa padroeira do Vale que protege Margarita e seus pescadores. Em cada barco, encontramos uma representação dessa virgem. Os marinheiros até mesmo transportaram uma grande estátua que eles instalaram na fábrica Cogumer. Para a festa em homenagem à Padroeira dos pescadores e marinheiros de Margarita, no dia 8 de setembro, é realizada uma procissão com a Virgem nos Barcos, oferendas são feitas como agradecimento ao mesmo tempo em que eles pedem proteção para todos.

E O FUTURO?

Apesar das oferendas, para os pescadores venezuelanos, nada é vem de graça e se eles conseguem viver de sua pesca, isso se deve a uma boa organização entre eles. Todos eles se conhecem, são das mesmas aldeias e às vezes da mesma família e daí vem a força que têm quando precisam reivindicar uma melhoria de suas condições. Desde esse ano, um dos operadores propôs aos pescadores um fundo de assistência social ao qual eles pagariam mensalidades que cobririam os custos do hospital. O segundo operador deverá também implantar um sistema em breve.  Recentemente, um pescador teve de pagar 1.800 euros por ter sido hospitalizado em Caiena. Eles dependem do direito do trabalho venezuelano, e por isso não podem se beneficiar do sistema francês de previdência social.

Da Guiana Francesa, eles só conhecem o porto do Larivot onde eles desembarcam sua mercadoria e o mercado próximo do qual se encontram as usinas Abchée e Cogumer. De qualquer forma, o que eles fariam em Caiena já que tudo custa uma fortuna proporcionalmente ao que eles ganham? Daí o desabafo de um marinheiro: « Na Guiana Francesa só o peixe não é caro! ».

Trecho do guia de atividades para os 8-11 anos “o mar na Guiana Francesa”