Paralelamente a uma persistente exploração de seus recursos, nós vimos nascerem nesses últimos anos, muitas iniciativas em favor de um desenvolvimento socialmente e ecologicamente responsável na Amazônia. Mesmo, se levarmos em conta os enormes desafios econômicos que pesam na região, os balanços desses projetos nem sempre satisfazem as expectativas, no entanto, eles podem ser vistos como pistas a serem seguidas nessa “selva”, vítima de sua própria riqueza.

Com uma superfície de mais de 7 milhões de km2, a bacia da Amazônia constitui uma das mais vastas reservas naturais do Planeta. Além de uma impressionante biodiversidade, ela abriga ricas matérias primas (madeiras preciosas, água, ouro, petróleo, gás…) que atraem a cobiça, a exemplo do potencial agrícola de seus 6 milhões de km2 inicialmente recobertos por florestas tropicais. Em poucas décadas, o “pulmão da Terra”, perdeu mais de um quinto de sua cobertura vegetal. As terras desmatadas servem essencialmente aos grandes pecuaristas e ao cultivo intensivo de produtos agrícolas economicamente rentáveis como a soja e a cana de açúcar.

Uma biodiversidade mais que nunca ameaçada

Aos canteiros de obras « oficiais » se soma um desflorestamento clandestino, às vezes provocado por migrantes que lutam para sua sobrevivência, sem a preocupação de utilizar práticas agrícolas não prejudiciais aos solos. Milhares de espécies de plantas e animais desapareceram das florestas; algumas antes mesmo de terem sido repertoriadas. Os ecossistemas amazônicos e as populações que também sofrem com os danos e poluições ligadas às extrações minerais, petrolíferas e às modificações de cunho econômico (estradas, pontes, barragens hidroelétricas, etc.).

Como seria outro modelo de desenvolvimento para uma Amazônia durável? A questão foi colocada durante o Fórum social, no final de janeiro de 2009 em Belém (estado do Pará), por inúmeras delegações indígenas da Amazônia. Eles não se contentaram em denunciar os problemas que nós enfrentamos. Através dessa questão, eles expressam sua vontade de se engajar no futuro socioeconômico e ecológico de seus territórios. Diversas experiências de desenvolvimento respeitoso dos homens em seu ambiente já ilustram concretamente essa vontade.

O Acre e o Amapá: um modelo da agenda 21?

Os dois estados brasileiros implementaram programas de exploração “racional” da biodiversidade. Eles estão apoiados nos princípios da Agenda 21* para preservar espaços naturais e culturas indígenas. Sustentados pelo governo, eles se beneficiaram de ajuda financeira de arrendadores de fundos internacionais.

Belas perspectivas para a pátria de Chico Mendes.

Administrada segundo princípios participativos, a capital do Acre, Rio Branco se mostra muito ativa em matéria de desenvolvimento sustentável. Ela se imbui na noção de “floresta de pé”, e na exploração racional dos recursos naturais que garantem o equilíbrio econômico da região, incitando as populações a permanecerem. As cooperativas colhem o látex, borracha, açaí (fruto do açaizeiro) e a castanha do Brasil (Castanha do Pará), que são comercializados nos canais de distribuição “equitativos”. Em, 2008, o Banco mundial concedeu um empréstimo de 120 milhões de dólares para sustentar o “Projeto de integração econômica e social e de desenvolvimento durável no Acre” (PROACRE) visando reforçar os serviços de saúde, educação e atividades econômicas vantajosas para as populações locais.

Essas perspectivas prometedoras não devem perder de vista as diferentes ameaças que continuam a assombrar a Região. Rico em petróleo e em gás, o vale do Juruá continua sendo muito cobiçado. Por outro lado, o cultivo intensivo de cana de açúcar para o bioetanol ameaça se desenvolver apesar do projeto de lei de setembro de 2009 impedindo tais plantações na Amazônia.

Amapá: um sustentável mais efêmero.

Em 1994, Capiberibe, então governador do Amapá, lançou um plano de “conservação e valorização da biodiversidade”. Para se opor às veleidades de exploração da madeira, ouro, pecuária extensiva e para garantir uma atividade rentável e “sustentável” às populações, ele se apoiou principalmente em um reconhecimento jurídico das zonas a serem preservadas. Um inventário dos recursos exploráveis foi iniciado e são estabelecidas ajudas para a colheita, transformação e o desenvolvimento dos retornos da comercialização dos produtos (mel, açaí, castanha do Brasil…).

Paralelamente foram implementados programas de ensino baseados nas relações entre natureza e sociedade (Escola Bosque), de formação de guias e desenvolvimento de infraestruturas de recepção para o ecoturismo assim como uma policia de proximidade destinada a combater a violência e as poluições. A mudança de governo do estado em 2002 quebra o impulso comunitário. Os prêmios oferecidos aos professores da Escola Bosque foram anulados e a policia de proximidade não foi mais instituída. Em 2008, associações não hesitaram em falar do “projeto abortado” do Amapá.

O estado de Rondônia, um caso de escola

Ao norte da Bolívia, o estado brasileiro de Rondônia pagou um preço alto pelas explorações florestais e a criação intensiva de gado que lhe fizeram perder 50% de suas florestas em alguns anos. Em 1999, vinte agricultores de Ouro Preto do Oeste se agruparam em uma associação dos “Produtores Alternativos” para implementar uma agricultura florestal sustentável, baseada na colheita e transformação dos palmitos, mel e guaraná. Eles foram formados em problemáticas ambientais, técnicas de microcréditos e se beneficiaram de ajudas para a transformação, transporte e distribuição de seus produtos.

Antes de abrir falência em 2008, a APA tinha 200 produtores membros e era um dos principais agentes socioeconômicos da região. Esse aumento de efetivos e de encargos explicaria em parte sua bancarrota, como sugere uma tese publicada por Renata Mauro Freire, engenheira agrônoma na universidade de Campinas: « houve uma transferência de responsabilidades, sem apoiou nem acompanhamento da gestão ». Segundo o estudo, a APA de Rondônia não é um caso isolado. Como em muitas associações, a coesão entre os aderentes se enfraqueceu enquanto a importância da estrutura aumentava. Cortada pela raiz, a direção não conseguiu sobreviver com uma diminuição dos recursos.

O guaraná, tesouro dos Satere Mawe.

Disseminados em uma centena de aldeias por 788 000 ha nos vales dos rios brasileiros Marau, Andira e Uaicurapa, os Satéré Mawé exploravam o guaraná desde sempre.  Em 1987, representantes da tribo criaram o GTSM (Conselho Geral dos Sateré Mawé) para manter o controle de sua evolução cultural e de seu meio ambiente. Sua vontade foi concretizada por programas de reflorestamento, proteção das espécies selvagens, gestão de resíduos e instalação de painéis solares. Apreciado no mundo inteiro por suas propriedades energéticas, o guaraná se tornou o pilar desse desenvolvimento. Os Satéré Mawé exportam a semente em diversas formas graças a organismos de comercio equitativo.

Experiência ecoturistica na venezuela.

Em 1993, na Venezuela, vinte indígenas criaram a Organização dos povos autóctones do Amazonas (ORPIA). Primeiro eles tentaram avaliar os efeitos do turismo segundo os critérios sociais e ambientais como a poluição das águas, o tráfico de espécies selvagens, a pesca, caça esportiva. Depois, os primeiros turistas foram recebidos em 1998. Desde então, o grupo não para de evoluir. Eles publicaram um guia destinado às coletividades autóctones que desejam se lançar no ecoturismo.

O parque amazônico da guiana francesa.

No sul da Guiana Francesa, ele se estende por 33.900 km2 dos quais mais 20.000 são classificados em proteção máxima. Nascido em 2007, ele é o maior parque nacional da União Europeia. Foram recenseadas 5.800 espécies vegetais, mais de 700 espécies de aves, 480 de peixes (dos quais 192 endêmicas), 186 de mamíferos, 261 de répteis e anfíbios assim como centenas de milhares de insetos. A principal ameaça que pesa sobre seu ecossistema continua sendo o garimpo clandestino e ilegal de ouro. Em 2009, uma moção do conselho científico do Parque declarou estado de emergência no combate contra “essas atividades criminosas” prejudiciais à segurança dos habitantes (aproximadamente 8.000 no parque) e à sua saúde.

Balanços e lições para serem tiradas

Dessas diferentes experiências de ecodesenvolvimento se desenham as possíveis soluções de uma Amazônia preservada. A falta de meios, centralização dos poderes e aumento do número de interventores para uma mesma estrutura, a regressão dos laços de solidariedade entre os agentes econômicos, as mudanças de governo e s proibições difíceis de serem aplicadas sobre o terreno, pesam sobre os promotores de um bio-desenvolvimento. Pelo contrário, esses obstáculos facilitam a margem de manobra dos grupos de pressão favoráveis a uma exploração intensiva e destruidora da Amazônia.

As populações indígenas estão hoje muito implicadas nos programas de proteção da Amazônia. Segundo, Alain Ruellan, professor emérito da Escola Nacional superior agronômica de Rennes e especialista da Amazônia, é preciso « favorecer a ocupação dispersa e diversificada da floresta por sociedade organizadas em pequenas comunidades rurais », manter e difundir conhecimentos populares e científicos modernos em vista de um “desenvolvimento sustentável”.

Essa ligação entre problemática autóctone e ecologia foi evocada durante o Dia internacional de solidariedade com os povos indígenas das Américas, no último dia 12 de outubro. Alguns dias mais tarde, o presidente do Banco Mundial, Robert B. Zoellick, declarava, falando dos povos autóctones: « sua longa experiência na gestão de recursos naturais e a adaptação às mudanças climáticas podem completar nossos conhecimentos sobre essa questão complexa e nos ajudar a resolvê-la».

Mas a ocupação durável e racional da terra não é algo que sobreviveria só de seus recursos próprios. Ela implica na implementação de condições socioeconômicas e em técnicas adaptadas. Para que a riqueza natural da Amazônia possa ser um valor agregado para aqueles que vivem nela, a população necessita apoio e de retornos incessantes. A ajuda dos estados, de ONGs ou setores como o comércio equitativo são de suma importância.